domingo, 20 de novembro de 2011

"Em Atenção a tua Palavra lançarei as redes" (Lc 5, 5)




O Blog publica, a seguir, o texto do Seminarista Eduardo dos Santos sobre o Ministério do Leitorato, recebido recentemente. É, acima de tudo, um texto que fala da beleza da Vocação. Vale a pena ler!


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Ao longo deste semestre, tendo em vista a possibilidade de receber o ministério de Leitor, fui realizando um itinerário de uma profunda experiência com a Palavra, desde o nosso Retiro Semestral em abril deste ano, com Dom José (Bispo do Paraná). Foi neste retiro, que me deparei com este versículo, do evangelho de Lucas, “Em atenção a tua Palavra lançarei as redes” (Lc 5,5), de certo não foi o único o qual eu pensei. Mas ao final do retiro, percebi que não se tratava de uma simples frase, “bonita” a ser escolhida, mas algo que expressasse minha espiritualidade. Neste mesmo sentido, já nos dizia, Dom José, que aqueles dias, não eram para serem vistos como aulas, palestras, ou igual a tudo que estávamos acostumados, no ambiente acadêmico. Mesmo ele sendo um doutor em Sagrada Escritura, teve uma atitude muito simples e atenciosa a Bíblia. Ele propôs que naqueles dias, teríamos a necessidade de Calar, Silenciar e Permitir que a própria Palavra se manifestasse e falasse a nós. Sem preconceitos, sem resistências, ou qualquer mínima maneira que fosse de tentar manipular o texto. Por isso, fiz esta experiência de lançar as redes como um ribeirinho, que apesar de usar todo seu conhecimento de vida, só lança a rede, numa atitude única de confiança e esperança de pescar seu sustento e alimento na sua vida, pois nesta hora, não pode se apegar nem ao medo ou ao comodismo. Um dia, lancei minha vida, não mãos de Deus, em atenção também a Palavra, que ouvi num encontro vocacional. Naquela ocasião, acompanhava um primo, que tinha tudo para entrar no seminário, e que depois desistiu. Ele para me convencer, dizia: “Banho, Bola e Comida”. Ia com maior alegria! Mas como sempre havia o momento de oração, naquele dia, ouvia uma passagem bíblica do chamado dos discípulos que deixam suas redes e imediatamente passam seguir Jesus. Aquela palavra fez arder algo em meu coração, uma inquietação, mas ao mesmo tempo uma alegria, que depois de toda uma história fez brotar um “Sim”. Em querer torna-me também pescador! “E deixaram tudo e seguiram” (5,11). Só hoje também pude perceber que desde criança, eu já era fascinado pela Sagrada Escritura, na catequese, tudo o que queríamos era ter nossas bíblias (xérox), bem coloridas, saber aquelas lições e histórias sagradas na ponta da língua, quando a catequista perguntasse a nós, quem já sabia do que tratava a história? Aos 14 anos quando recebi o primeiro convite para me tornar catequista fiquei inquieto, pois imaginava que deveria saber tudo sobre a bíblia. Vai que me façam uma pergunta, e não saiba responder. Que vergonha iria passar? Mas aprendi que as perguntas, mas difíceis, não eram essas histórias, mas as indagações e dúvidas da nossa própria vida, e que estas, devem ser iluminadas pela experiência que o povo da Bíblia fez, hora acertando, hora errando e refazendo sempre seu caminho.
Mais tarde no grupo de jovens, as inquietações e dúvidas acerca da Igreja e da Bíblia, foram aumentando, mas como foi bom, reunir um grupo de jovens e amigos quase que diariamente, na rua da minha casa, com violão, cantando louvores, rezando e lendo a Bíblia até altas horas da noite, as pessoas passavam e ficavam olhando admiradas. À medida que descobria novidades, e esclarecimentos, realizávamos em casa, pequenos grupos de discussão, e debatíamos todo e qualquer assunto. Nem sempre tínhamos respostas satisfatórias. Lembro, que muitos colegas, tinham já visitado outras igrejas cristãs, e traziam toda aquela carga protestante da bíblia. Já na vida em nosso seminário, esses anos, foram surpreendentes, principalmente pelos estudos teológicos, mas também desafiadores, pois nem sempre consegui rezar tudo aquilo que estudei. Como é fácil, se prender a um racionalismo medíocre, que não enxerga além do seu panorama. “trabalhamos a noite inteira e não pescamos nada” (Lc 5,5). Mediante as várias dificuldades próprias da caminhada. Aqui dentro certamente se faz o grande e verdadeiro discernimento, pois o mundo sempre irá nos propor às mais diversas formas de cativeiros, portas para a realização de todos os tipos de prazeres que cercam o coração do ser humano. Penso que algumas vezes, perdi a atenção primeira, “do lançar as redes”. Onde nossa vida, precisa ter uma fidelidade permanente e uma obediência cheia de gratuidade e generosidade, que só podem ser encontradas e alimentadas numa verdadeira espiritualidade eucarística e de encontro constante com a Palavra e do serviço aos irmãos e irmãs. Assim, recebi este ministério, como verdadeiro dom e vigor, do Espírito Santo, que tudo recria, sustenta e reanima. Desejo que este encontro seja constante em minha vida, e que me ajude a sair cada vez mais em missão, buscando superar todas as barreiras do comodismo, preconceito e individualismo, a fim de cada vez mais me configurar como verdadeiro e digno pescador de Cristo.

Manaus, 19 de novembro de 2011

Carlos Eduardo Castro dos Santos
2º. Ano de Teologia (ITEPES). - Seminário São José

Um comentário:

Anônimo disse...

''Aqui dentro certamente se faz o grande e verdadeiro discernimento...''. Em que sentido se diz isso com tanta convicção, 'grande e verdadeiro'? Duas palavras com bastante peso! Discernimento de que, com o que e como? Dizes de um discernimento a uma vida presbiteral, ou a uma vida cristã? Ou dizes, que o ''aqui dentro'', seja no sentido de estar dentro da Palavra, permeada de saberes a uma Grande e Verdadeira vivência cristã? Porquanto, creio que não esteja falando de uma estrutura de Seminário! Pois se estiver, penso que a Estrutura, teve, tem e terá sempre grande influência a um bom discernimento para um aprofundamento vocacional específico, no caso, o discernimento ao presbiterado.
Com isso, o grande e o veradadeiro discernimento, só se faz a cada vivência cotidiana. E a principal vocação é a do Amor! Um presbítero, pode não exercer seu ministério e assim, deixá-lo com o tempo. Isso não quer dizer que o mesmo não teve um bom e verdadeiro discernimento. O Ministerio, pode e é muitas vezes, uma porta larga às pompas do mundo. Em todo e qualquer lugar temos portas que nos levam aos prazeres, cativeiros e tudo o mais. A Estrutura seminarística, também está no mundo, logo, es uma porta, tanto larga, como pode ser, e tem o intuito de ser, uma porta estreita.
''Lançai as redes''!
Mas, primeiro e sempre antes de lançá-las ao mar da sociedade, lancemos as mesmas redes no mar de nosso coração! Tendo lançadas, ''o que me serve pego e guardo, o que me sobra jogo fora''! Cobiça, orgulho, torpor, mesquinhez, prepotência, e tudo o quanto não presta!
Salve Maria Imaculada!
Lancemos as redes em atenção à Palavra Dele!
Exerça de bom grado tão importante ministério! ''Se não tiver quem nos pregue, como iremos crer?''.
Abraço fraterno!
Paz e Bem!